Assim como o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo (SJSP), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a organização Repórter Brasil, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) publicou nesta segunda-feira (21) matéria em seu site repudiando os ataques sofridos pelo jornal O Verdadeiro por conta de reportagem que divulga análise da água feito pelo Ministério da Saúde.
Confira abaixo a nota na íntegra:
O jornalista Alex Calmon, dono do jornal O Verdadeiro, de Rio das Pedras (a 165 km de São Paulo), foi atacado pelo diretor de comunicação da prefeitura local, Juliano Amaral, em um vídeo em que o agente público conclama a população a abordar o comunicador na rua e os anunciantes a retirarem anúncios do site.
O vídeo, publicado na página particular de Amaral no Facebook, viralizou na cidade de 37 mil habitantes. Calmon registrou um boletim de ocorrência na polícia.
Amaral reagiu a uma reportagem publicada no dia 11.mar.2022 em O Verdadeiro que menciona um relatório do Ministério da Saúde, recém-lançado e divulgado em primeira mão pela agência Repórter Brasil. O documento mostra que Rio das Pedras estava entre os municípios cujos testes de qualidade da água haviam apontado a presença de elementos cancerígenos.
Antes da publicação do vídeo, o prefeito da cidade, Marcos Buzetto (PSB), aproveitou um evento de homenagem ao Dia da Mulher, realizado em Rio das Pedras em 11.mar.2022, para atacar indiretamente o jornalista. Sem citar o nome de Calmon, Buzetto criticou o jornal e afirmou que o dono do veículo não era nem sequer da cidade e por isso não tinha compromisso com o município.
Nascido no Rio de Janeiro, Calmon tem o site, que criou junto com seu pai, há 24 anos e mora na cidade há mais de duas décadas. Ele contou à Abraji que foi diretor de comunicação da prefeitura na gestão anterior, e esse foi um dos pontos usados para atacar o trabalho jornalístico. A análise da água foi feita entre os anos de 2018 e 2020, quando Calmon trabalhava na prefeitura. O jornalista foi acusado pelo sucessor de ter omitido a informação, embora o relatório do Ministério da Saúde com a informação tenha sido divulgado só agora, em o Mapa da Água, um especial feito pela Repórter Brasil.
O jornalista também foi acusado de, ao divulgar a informação, gerar celeuma na cidade. De acordo com o vídeo do diretor de comunicação, as pessoas estariam abordando e ofendendo os funcionários da companhia de abastecimento. O diretor chega a dizer que a reportagem foi “terrorismo”.
É papel do jornalismo, sobretudo da imprensa local, apresentar os problemas à comunidade e não omitir informações para que os cidadãos possam se informar e formar suas próprias opiniões. Na reportagem em questão, fica claro que a análise das amostras de água foram tomadas entre 2018 e 2020, assim como é informada a data de lançamento do relatório: 7 de março de 2022. Também é citado o trabalho com o mapa interativo feito pela Repórter Brasil, que mostrou a qualidade da água em todos os municípios do país.
Ainda que tenha frisado em seu vídeo que naquele momento falava apenas em seu nome, um agente público é sempre um representante estatal. Além disso, incitar a população a abordar o jornalista e pedir o boicote dos anunciantes é uma tentativa lamentável de interditar a liberdade de imprensa.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) se solidariza com o jornalista e reitera a importância da transparência de dados públicos e da liberdade de imprensa. Destaca ainda que agentes públicos que se sintam prejudicados por reportagens devem buscar contestação e mesmo reparação usando os mecanismos legais disponíveis.