Certo dia, numa tarde normal, ela sabia que nada estava bem. A sensação era de distância, vazio e morte interior. Alguns minutos sozinha foram necessários pra entender que algo acontecia.
Uma mulher reconhecida, inteligente e bem quista, mas encabulada de traumas e medos de um futuro que já batia à porta.
– E se eu morrer, eu realmente posso ir, apesar de não seguir em paz, imagine só, as filhas sendo deixadas pra trás por pura inconsequência, ah, seria uma tragédia.
Ela não entendia o porquê, mas encontrou o mundo, os títulos, os amigos, os livros, e se esqueceu de si, e se esqueceu mesmo, a ponto de ter medo de seguir. E aí, o caminho mais fácil era o do passado. Era doloroso, mas já era conhecido.
Quem nunca preferiu fazer um retorno e gastar mais combustível do que seguir numa rota desconhecida? O desconhecido é assustador, aterroriza.
E frequentemente ela fazia esse percurso. Se havia medo, retornava. Se desafios aportavam, o recolhimento a poupava, como uma tartaruga, lenta, pesada, na defensiva.
Mas naquela tarde houve o despertar. A palavra de uma criança a fez arrancar as escamas dos olhos e se despir do fracasso.
– Você não me pega, você não aguentaria correr!
Dias e noites de choro, exames, consultas, encontros e desencontros. Seria infarto, trombose, o que mais faltava? Era madrugada, e em frente àquele hospital ela olhou pro céu e só fez um pedido:
– Deus, se eu tiver seu apoio nesse processo e conseguir voltar, eu prometo mudar!
Poderia ter sido só mais uma promessa vã. Mas, felizmente não foi. Vinte horas depois ela abriu os olhos e a pergunta anestesiada que ecoou naquela sala gelada e silenciosa foi:
– Eu não morri? É serio que eu não morri?
Em risos alguém respondeu:
– Você não morreu, você sobreviveu!
E desde então ela se colocou em pé para cumprir a promessa. A mudança nunca é light ou saborosa. Ela dói, ela sangra, ela inflama pra desinflamar, ela queima pra poder brotar.
Essa mulher sou eu, e ontem ouvi:
– Ela tá se achando!
E pela primeira vez ouvir isso não foi ruim, foi libertador! Se achar é preciso, é necessário. A nossa vida é sobre se encontrar, se permitir viver, viver!
Nesse Dia das Mulheres, desejo a você amada leitora que se questione e aceite ajuda nesse reencontro. Você merece o infinito. Mas, para acessá-lo, precisará ficar nas pontas dos pés, com leveza, equilíbrio e disposição.
Se ACHE, não se PERCA, “Não se abandone, ninguém volta para te buscar”.
Feliz nosso dia!
Por professora Keren Oliveira