O Mapa da Água, divulgado nesta segunda-feira (7), aponta que a água fornecida para a população de Rio das Pedras conta com substância acima do indicado para saúde humana, o que pode aumentar os riscos de doenças crônicas, como o câncer.
O levantamento foi realizado em municípios de todo o País e conta com dados disponibilizados pelo Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para o Consumo Humano), do Ministério da Saúde. Os testes são feitos após o tratamento e a maioria dessas substâncias não pode ser removida por filtros ou fervendo a água.
As análises estão disponíveis no site do Ministério da Saúde e foram compilados pela organização Repórter Brasil, a partir de classificações dadas a cada substância por órgãos reguladores, como a OMS (Organização Mundial da Saúde). O mapa informa que foi detectado acrilaminda e cloreto de vinila acima do limite de segurança na água que abastece Rio das Pedras ao menos uma vez no período entre 2018 e 2020. Segundo a OMS, as substâncias são classificadas como “maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer”.
A acrilamida é classificada como provavelmente cancerígena para o ser humano pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde, com base em estudos com ratos que apresentaram tumores depois de ingerir água potável com acrilamida por longos períodos. O cloreto de vinila também é classificado como cancerígeno pela IARC com base em estudos que mostraram que essa substância causa câncer de fígado.
Os organizadores do mapa informam que foram localizadas outras duas substâncias classificadas como possivelmente cancerígeno: ácidos haloacéticos total, que em altas concentrações pode gerar problemas no fígado, testículos, pâncreas, cérebro e sistema nervoso, e trihalometanos total, que em exposição oral prolongada pode produzir efeitos no fígado, rim e sangue.
“Se há substância acima do valor máximo permitido, podemos dizer que a água está contaminada. Outra forma de dizer é que essa água não está própria para consumo, como quando um alimento passa da data de validade”, explicou Fábio Kummrow, professor de toxicologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Contaminada ou imprópria, Kummrow confirma que existe risco para quem bebe a água, e ele varia de acordo com a substância e com o número de vezes que ela foi consumida ao longo do tempo. O risco é maior para quem bebeu diversas vezes ao longo de anos.
Com impacto silencioso, esses produtos têm dinâmica diferente das contaminações por bactérias, que provocam dor de barriga, diarreia e até surtos de cólera. Os sintomas das substâncias químicas e radioativas podem levar anos, mas, quando aparecem, são na forma de doenças graves.
Tratamento que contamina – De acordo com o levantamento da Repórter Brasil, as maiores responsáveis pelos problemas com a água no Brasil são substâncias geradas pelo próprio tratamento. Quando o cloro interage com elementos como algas, esgoto ou agrotóxicos, nascem os chamados “subprodutos da desinfecção”. Eles estão acima do limite em 493 cidades, 21% das que testaram.
“Evidente que é importante tratar a água para remover microrganismos, mas não é aceitável eliminar riscos biológicos e gerar riscos químicos”, afirma Leo Heller, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e relator especial do Direito Humano à Água da ONU entre 2014 e 2020.
Outro lado – O Serviço Autônomo de Água e Esgato (SAAE) destacou que as substâncias foram detectadas em análise feita entre 2018 e 2020. “A última medição feita dia 24 de fevereiro em vários pontos, incluindo hospital e UBS da cidade e não trouxe alterações nestes níveis”, afirmou a nota enviada pela autarquia.