A tragédia que atingiu 435 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul segue aumentando o número de vítimas. Até o momento há 113 mortos, 756 pessoas feridas, 146 desaparecidas, além de 406,7 mil desabrigados. São 1,9 milhão de pessoas afetadas.
A comoção movimentou o país inteiro, inclusive alguns países se solidarizaram. Em Rio das Pedras, a situação dos sobreviventes tirou o sono de Jhonny Casarim.
“Vi os vídeos da situação no sul e isso me deixou muito aflito. Na noite de segunda para terça-feira eu não consegui dormir pensando que precisava fazer algo. Muitas pessoas falaram para eu não ir, mas eu estava decidido. Quatro pessoas falaram que iriam junto comigo, mas desistiram. Eu iria sozinho mesmo. Falei com o pastor da Igreja Quadrangular em Piracicaba e carreguei o carro com doações. Nisso apareceu o Vinícius que decidiu ir comigo. Saímos às 22 horas de terça e chegamos às 7 horas de quarta-feira. Chegando, fomos muito bem recepcionados pelo Pastor Marcos Timóteo da Costa, da Igreja Batista Filadélfia. É lindo de ver as pessoas se ajudando e ao mesmo tempo é triste ver pessoas que perderam tudo. Ainda assim, há sorrisos no rosto pela ajuda e solidariedade”, conta o bombeiro civil.
Casarim está abrigado no Instituto Filadélfia, em Canoas, onde se alimenta e descansa entre as ações de resgate. Logo na chegada a missão foi com crianças, algumas que perderam seus pais, em um momento de brincadeiras e distração. No resgate, o bombeiro participou do resgate do cavalo caramelo, que teve destaque nacional. Em apenas um dia foram mais de 100 cachorros salvos. O resgate a pessoas desabrigadas segue acontecendo também.
“Estamos ajudando em São Leopoldo e Canoas. Matias Velha é uma das piores regiões, o lugar mais atingido do Rio Grande do Sul. Logo na chegada fui distribuir o material que arrecadamos. Visitei as crianças nos abrigos, tem muitas crianças que não sabem onde está o pai e a mãe. Fico feliz por ter vindo aqui, por ajudar. É muito triste o que está acontecendo aqui. A televisão não mostra toda a realidade. Hoje (quinta-feira), fui para a água, saí de barco. Resgatamos o cavalo que foi muito falado, mais de uma centena de cachorros. Pessoas para resgatar não têm mais, mas tem muitos corpos na água. A mídia não está falando e mostrando. Estão deixando os corpos amarrados, todos juntos nos cantos, para não levar onde a população está, para não assustar. Os corpos serão retirados durante a noite, já estão preparando os sacos e eu também irei ajudar. É muita gente morta”, conta Casarim, destacando ainda que a cidade está sem água há uma semana, o que dificulta a situação.
Doações em Rio das Pedras
Uma onda de doações em Rio das Pedras, destinadas ao Rio Grande do Sul, teve início na segunda-feira (6). A empreendedora Adriele Pereira organizou um ponto de coleta de donativos para ajudar. Entre os materiais arrecadados para doação estão fraldas infantis e geriátricas, produtos de limpeza, produtos de higiene pessoal, roupas, cobertores, ração para pets e leite em pó.
Após o início da ação, várias pessoas começaram a se organizar, disponibilizar pontos de coleta e incentivar a doação de material. Tanto da iniciativa pública quanto da privada, a solidariedade envolveu Rio das Pedras.
Entre as ações, no sábado haverá um ponto de arrecadação, em frente a Igreja Matriz, a partir das 9 horas.
Uma dica para quem deseja ajudar com doações, para facilitar o processo de separação nos postos de coleta de donativos, é identificar as sacolas com uma etiqueta ou fita colorida. Descrever se dentro das sacolas há roupas masculinos ou femininas, adulto ou infantil e o tamanho das peças auxilia aos voluntários para agilizar o processo de organização.
“Comecei a ver um movimento na internet de pessoas reclamarem de política, do show da Madona, falar de mil assuntos aleatórios e não estava ouvindo nenhuma movimentação das pessoas, inclusive aqui na cidade, para fazer arrecadação e ajudar. É um momento para nos unirmos e ajudar as pessoas. No fim, quem precisa é quem está lá no meio da água, com a família desaparecida, com os filhos desaparecidos”, relata Adriele Pereira, que resolver tomar a iniciativa ao perceber que não havia qualquer movimento de ajuda em Rio das Pedras.
A empreendedora orienta ainda que uma forma rápida e segura de contribuir diretamente para os esforços de ajuda com valores financeiros devem ser feitos através de PIX no canal oficial do governo, por meio da chave PIX 92958800000138 (CNPJ).
“Compartilhe com seus amigos e vamos aumentar essa corrente. Cada pequeno gesto de solidariedade faz a diferença”, finaliza Adriele.
Previsão do tempo
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) afirma que, nesta sexta-feira (10), o RS voltará a ser atingido por chuvas fortes. Os volumes podem passar dos 100 milímetros. Ainda conforme a previsão, os ventos mudarão de direção e irão soprar predominantemente de sul, dificultando o escoamento das águas do Guaíba e da Lagoa dos Patos.
As regiões mais afetadas devem ser o Norte e o Leste do estado.
“Tem que ficar bastante claro que essas regiões aqui vão ser realmente, de novo, as mais impactadas. Então, a condição é bastante crítica, não só para a questão de rios”, diz a meteorologista Cátia Valente, da Sala de Situação do RS.
• Sexta (10): as chuvas se espalham pelo estado, sendo mais intensas no Centro, Norte, Nordeste, Vales, Região Metropolitana e Litoral Norte (volumes até 120 milímetros); ventos quadrante sul e mar agitado;
• Sábado (11): chuvas seguem fortes e persistentes entre 40 e 90 milímetros, nas mesmas regiões; ventos seguem no quadrante sul e mar agitado;
• Domingo (12): chuvas seguem intensas com volumes entre 80 e 140 milímetros; ventos de sudeste/leste e mar agitado;
• Segunda (13): chuvas persistem localmente fortes nessas regiões.