Este ano estive mais uma vez com minha câmera entre as cenas e os bastidores da encenação da Paixão de Cristo. A apresentação aconteceu sábado (06/04) e hoje ocorre as 19h00 no Espaço do Burim.
O texto a seguir é uma homenagem a todas as pessoas que, mesmo diante dos desafios e acontecimentos dos últimos dias, não desistiram. É sempre necessário uma reflexão:
É sobre o amor que move essa comunidade.
Mais do que teatro, é fé encarnada.
Mais do que espetáculo, é entrega verdadeira.
Na entrada de Jerusalém, não houve palmas nem ramos.
Mas havia gente do povo, com o coração disposto.
A Última Ceia deles foi um café apressado antes do ensaio.
E no Getsêmani da dúvida, quando a ajuda prometida não veio,
eles escolheram continuar.
A política, desde aquele tempo, não costuma estar do lado certo.
Entre Pilatos que lavam as mãos e alianças que não se sustentam,
o povo segue carregando o peso da cruz.
A cada martelo negado, um prego simbólico.
A cada silêncio oficial, um espinho na testa.
Mesmo assim, subiram o morro.
Levaram nos ombros a cruz da cultura, da fé, da memória.
Jesus, este ano, estava ali em cena,
mesmo com o coração dividido por razões maiores do que qualquer palco.
Como muitos estavam.
Mulheres, crianças, pedreiros, professores, cozinheiras.
Todos atores da própria fé.
Três semanas antes, disseram que não teria palco nem arquibancada.
Mas eles responderam:
“O que fazemos é maior que todos nós.”
E foi.
Porque a ressurreição acontece quando um povo não desiste.
Quando o amor encenado é real.
E quando a paixão – não a dor, mas a entrega –
vira verbo no presente.
Por Del Rodrigues